Citação

O trabalho

Léon Denis

“O trabalho é uma lei para as humanidades planetárias, assim como para as sociedades do espaço. Desde o ser mais rudimentar até os Espíritos angélicos que velam pelos destinos dos mundos, cada um executa sua obra, sua parte, no grande concerto universal.

Penoso e grosseiro para os seres inferiores, o trabalho suaviza-se à medida que o Espírito se purifica. Torna-se uma fonte de gozos para o Espírito adiantado, insensível às atrações materiais, exclusivamente ocupado com estudos elevados.

É pelo trabalho que o homem doma as forças cegas da Natureza e preserva-se da miséria; é por ele que as civilizações se formam, que o bem-estar e a Ciência se difundem.”

(Léon Denis. Depois da morte. Cap. 52)

Do átomo ao arcanjo

“É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia, de que o  vosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto!” (O Livro dos Espíritos, questão 540)

Obediência e resignação

A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava. Ele veio no momento em que a sociedade romana perecia nos desfalecimentos da corrupção. Veio fazer que, no seio da Humanidade deprimida, brilhassem os triunfos do sacrifício e da renúncia carnal.
Cadaa época é marcada, assim, com o cunho da virtude ou do vício que a tem de salvar ou perder. A virtude da vossa geração é a atividade intelectual; seu vício é a indiferença moral. Digo, apenas, atividade, porque o gênio se eleva de repente e descobre, por si só, horizontes que a multidão somente mais tarde verá, enquanto que a atividade é a reunião dos esforços de todos para atingir um fim menos brilhante, mas que prova a elevação intelectual de uma época. Submetei-vos à impulsão que vimos dar aos vossos espíritos; obedecei à grande lei do progresso, que é a palavra da vossa geração. Ai do espírito preguiçoso, ai daquele que cerra o seu entendimento! Ai dele! porquanto nós, que somos os guias da Humanidade em marcha, lhe aplicaremos o látego e lhe submeteremos a vontade rebelde, por meio da dupla ação do freio e da espora. Toda resistência orgulhosa terá de, cedo ou tarde, ser vencida. Bem-aventurados, no entanto, os que são brandos, pois prestarão dócil ouvido aos ensinos. – Lázaro. (Paris, 1863.)

O Evangelho segundo o espiritismo, Cap. IX, item 8

    A afabilidade e a doçura

    A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja tingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por detrás. 

    A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: “Aqui mando e sou obedecido”, sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: “E sou detestado.” 

    Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são tingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ao demais, sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana. – Lázaro. (Paris, 1861.)

    O Evangelho segundo o espiritismo, cap. IX, item 6

    vida_contemplativa

     

     
    Vida contemplativa

                            O Livro dos Espíritos, Parte Terceira, Capítulo II, questões 657

           

            657 Os homens que se entregam à vida contemplativa, não fazendo nenhum mal e pensando apenas em Deus, têm mérito perante Deus?

     

    – Não, porque se não fazem o mal também não fazem o bem, e são inúteis; aliás, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que se pense n’Ele, mas não que se pense apenas n’Ele, uma vez que deu ao homem deveres a cumprir na Terra. Aquele que consome seu tempo na meditação e na contemplação não faz nada de meritório aos olhos de Deus, porque a dedicação de sua vida é toda pessoal e inútil para a humanidade, e Deus lhe pedirá contas do bem que não tiver feito. (Veja a questão 640.)

     

     

    Comentários

            Jesus é o nosso guia e modelo (LE 625) e, portanto, ele é o que nos indica o caminho a seguir e o que nos oferece seus próprios exemplos a serem copiados. A sua passagem pela Terra foi marcada pelo trabalho, pela oração e pelo convívio social. Como ele poderia ter legado o Evangelho luminoso à humanidade se vivesse no isolamento do deserto, afastado das pessoas? É claro que ele buscava a solidão para se integrar ao Pai, por meio da oração (“E, despedida a multidão, subiu ao monte a fim de orar, à parte. E, chegada já a tarde, estava ali só.” – Mt 14, 23), mas a sua mensagem foi transmitida junto às massas, geralmente, ou a um pequeno grupo de seguidores, eventualmente. É impossível imaginar o Cristo dedicado exclusivamente à vida contemplativa. (Vide Emmanuel/Chico Xavier, Caminho, Verdade e Vida, lição de nº 6). 

            Kardec, na obra O Céu e o Inferno, explica que “A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes. Para o homem que vivesse insulado não haveria vícios nem virtudes; preservando-se do mal pelo insulamento, o bem de si mesmo se anularia. ” (  Cap. III, item 8  )

            Finalmente, reproduzimos trecho de mensagem intitulada “A solidariedade”, que um Espírito ditou e Kardec inseriu na Revista Espírita, de março de 1867: “O homem não é um ser isolado; é um ser coletivo. O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que o rodeia isoladamente: não pode encontrá-la senão no “homem” ou na “humanidade”, tanto que a infelicidade de um membro da humanidade pode afligi-lo.”

            Muita paz! 

     

               

    objetivoadora

        

    Pela adoração, que consiste na elevação do pensamento a Deus, o homem aproxima sua alma de Deus (LE 649). A adoração origina-se de um sentimento inato, como o da existência de Deus. A consciência de sua fraqueza leva o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger (LE 650). Não há povos destituídos de todo sentimento de adoração, pois que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem que acima de tudo há um ente supremo (LE 651). A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes (LE 652)

    A adoração depende, essencialmente, da idéia que a criatura tem a respeito do Criador. Essa idéia se modifica com a maturidade espiritual de cada um. A tradição judaico-cristã oferece um claro exemplo do dinamismo dessa idéia: “Deus, a princípio, foi apontado pelos profetas como Senhor dos Exércitos; depois, no Evangelho, Jesus a Ele se referiu como Pai; mais tarde o apóstolo e evangelista João afirmou que ‘Deus é Amor’. Mudou Deus? Não, Ele é imutável. Evoluiu, aperfeiçoou-se o entendimento humano. Quando isso acontece com alguém, esse alguém naturalmente, se coloca a caminho desta bem-aventurança. Ora, se Deus é o Bem, o amor, a Caridade e o Progresso Real em todas as coisas, reconhecendo tudo isso, estamos vendo-O. Apenas assim, estaremos percebendo o Criador. Deus deixa de ter forma, como costumamos atribuir-lhe, pois ‘Deus é Espírito'” (Luz Imperecível, Grupo Espírita Emmanuel, União Espírita Mineira, pág. 76).

    Como sabemos, o progresso moral e intelectual não ocorre no mesmo momento e do mesmo modo para todos. A grande “Escola” chamada Terra possui um admirável sistema pedagógico, por meio do qual os alunos das diversas séries, do maternal ao doutorado, freqüentam uma única sala de aula, mas cada um recebe as lições e passa pelos exames de acordo com o grau a que pertence. Esse sistema é fabuloso, porque o convívio dos alunos permite que eles se entreajudem no aprendizado que lhes é pertinente (seja pela cooperação de boa vontade ou seja pelos choques de interesse). Assim, há os “alunos” que ainda adoram o Senhor dos Exércitos e, por isso, temem-nO. Isso porque não sabem amá-lO. Dizem, aliás, que mais que temer é preciso “tremer” diante da Divindade. Ainda não podem compreender o Pai de Amor e de Bondade, apresentado por Jesus.

    Antes adorávamos uma divindade feita à imagem e semelhança do homem: um ser antropomorfo, cheio de ciúmes, vaidoso, orgulhoso e irado (O velhinho barbudo com um grande livro onde eram registrados os “pecados” de cada um). Hoje já buscamos a Divindade espiritual, conforme Jesus ensinou à samaritana junto ao poço de Sicar. Mas quando veremos Deus em sua mais ampla realidade? Quando o encararemos face a face? Jesus também aqui deu a resposta: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt.5:8).

    Simples, portanto: basta limparmos o nosso perispírito das manchas adquiridas com o desvio da Lei de Deus. Para isso, a reencarnação funciona como uma magnífica máquina de lavar espiritual. Assim, refletindo, ganham especial relevo as figuras oferecidas por Jesus: a veste nupcial, os lírios do campo, as aves do céu, e tantas outras… Essas figuras, quando tomadas literalmente, não oferecem as possibilidades de compreensão como as que nos permite a reflexão em torno de seu significado espiritual (“A letra mata; o Espírito vivifica”). A interpretação literalista das revelações, inclusive a espírita, possui alguns efeitos colaterais bem desagradáveis: sectarismo, fanatismo, intolerância, pretensa “salvação” para os “irmãos” e “inferno” garantido para os que pensam diferente, etc…

    Uma última consideração: a adoração não aumenta ou diminui a Divindade, pois que Deus já é absoluto em suas perfeições e não se envaidece ou se entristece com os elogios ou com a ingratidão que a criatura lhe apresenta (O melindre ainda é resquício de inferioridade da criatura). A adoração exige a humildade, condição indispensável para a sua evolução e conseqüente libertação do sofrimento. Dessa forma, pela adoração a criatura se liga ao Criador, dá uma pausa no orgulho e ganha a simpatia dos mensageiros de Deus.

            Muita paz!

               

     

    Afeição que os Espíritos votam a certas pessoas

    484. Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?
    “Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como conseqüência da conformidade dos sentimentos.”
    485. É exclusivamente moral a afeição que os Espíritos votam a certas pessoas?
    “A verdadeira afeição nada tem de carnal; mas, quando um Espírito se apega a uma pessoa, nem sempre o faz só por afeição. À estima que essa pessoa lhe inspira pode agregarse
    das paixões humanas.”
    486. Interessam-se os Espíritos pelas nossas desgraças e pela nossa prosperidade? Afligem-se os que nos querem bem com os males que padecemos durante a vida?
    “Os bons Espíritos fazem todo o bem que lhes é possível e se sentem ditosos com as vossas alegrias. Afligem-se com os vossos males, quando os não suportais com resignação, porque nenhum benefício então tirais deles, assemelhando-vos, em tais casos, ao doente que rejeita a beberagem amarga que o há de curar.”
    487. Dentre os nossos males, de que natureza são os de que mais se afligem os Espíritos por nossa causa? Serão os males físicos ou os morais?
    “O vosso egoísmo e a dureza dos vossos corações. Daí decorre tudo o mais. Riem-se de todos esses males imaginários que nascem do orgulho e da ambição. Rejubilam com os que redundam na abreviação do tempo das vossas provas.”

    Sabendo ser transitória a vida corporal e que as tribulações que lhe são inerentes constituem meios de alcançarmos melhor estado, os Espíritos mais se afligem pelos nossos males devidos a causas de ordem moral, do que pelos nossos sofrimentos físicos, todos passageiros.
    Pouco se incomodam com as desgraças que apenas atingem as nossas idéias mundanas, tal qual fazemos com as mágoas pueris das crianças.

    Vendo nas amarguras da vida um meio de nos adiantarmos, os Espíritos as consideram como a crise ocasional de que resultará a salvação do doente. Compadecem-se dos nossos sofrimentos, como nos compadecemos dos de um amigo. Porém, enxergando as coisas de um ponto de vista mais justo, os apreciam de um modo diverso do nosso. Então,
    ao passo que os bons nos levantam o ânimo no interesse do nosso futuro, os outros nos impelem ao desespero, objetivando comprometer-nos.

    488. Os parentes e amigos, que nos precederam na outra vida, maior simpatia nos votam do que os Espíritos que nos são estranhos?
    “Sem dúvida e quase sempre vos protegem como Espíritos, de acordo com o poder e que dispõem.”

    a) – São sensíveis à afeição que lhes conservamos?

    “Muito sensíveis, mas esquecem-se dos que os olvidam.”

    Convulsionários

    481. Desempenham os Espíritos algum papel nos fenômenos que se dão com os indivíduos chamados convulsionários?

    “Sim e muito importante, bem como o magnetismo, que é a causa originária de tais fenômenos. O charlatanismo, porém, os tem amiúde explorado e exagerado, de sorte a lançá-los ao ridículo.”

    a) De que natureza são, em geral, os Espíritos que concorrem para a produção desta espécie de fenômenos?

    “Pouco elevada. Supondes que Espíritos superiores se deleitem com tais coisas?”

    482. Como é que sucede estender-se subitamente a toda uma população o estado anormal dos convulsionários e dos que sofrem de crises nervosas?

    “Efeito de simpatia. As disposições morais se comunicam mui facilmente, em certos casos. Não és tão alheio aos efeitos magnéticos que não compreendas isto e a parte que alguns Espíritos naturalmente tomam no fato, por simpatia com os que os provocam.”

    Entre as singulares faculdades que se notam nos convulsionários, algumas facilmente se reconhecem, de que numerosos exemplos oferecem o sonambulismo e o magnetismo, tais como, além de outras, a insensibilidade física, a leitura do pensamento, a transmissão das dores, por simpatia, etc. Não há, pois, duvidar de que aqueles em quem tais crises se manifestam estejam numa espécie de sonambulismo desperto, provocado pela influência que exercem uns sobre os outros. Eles são ao mesmo tempo magnetizadores e magnetizados, inconscientemente.

    483. Qual a causa da insensibilidade física que se observa em alguns convulsionários, assim como em outros indivíduos submetidos às mais atrozes torturas?

    “Em alguns é, exclusivamente, efeito do magnetismo que atua sobre o sistema nervoso, do mesmo modo que certas substâncias. Em outros, a exaltação do pensamento embota a sensibilidade. Dir-se-ia que nestes a vida se retirou do corpo, para se concentrar toda no Espírito. Não sabeis que, quando o Espírito está vivamente preocupado com uma coisa, o corpo nada sente, nada vê e nada ouve?”

    A exaltação fanática e o entusiasmo hão proporcionado, em casos de suplícios, múltiplos exemplos de uma calma e de um sangue frio que não seriam capazes de triunfar de uma dor aguda, senão admitindo-se que a sensibilidade se acha neutralizada, como por efeito de um anestésico. Sabe-se que, no ardor da batalha, combatentes há que não se apercebem de que estão gravemente feridos, ao passo que, em circunstâncias ordinárias, uma simples arranhadura os poria trêmulos.

    Visto que esses fenômenos dependem de uma causa física e da ação de certos Espíritos, lícito se torna perguntar como há podido uma autoridade pública fazê-los cessar em alguns casos. Simples a razão. Meramente secundária é aqui a ação dos Espíritos, que nada mais fazem do que aproveitar-se de uma disposição natural. A autoridade não suprimiu essa disposição, mas a causa que a entretinha e exaltava. De ativa que era, passou esta a ser latente. E a autoridade teve razão para assim proceder, porque do fato resultava abuso e escândalo. Sabe-se, demais, que semelhante intervenção nenhum poder absolutamente tem, quando a ação dos Espíritos é direta e espontânea.

    Quer saber os motivos que levaram Kardec a questionar sobre os convulsionários? Clique aqui

    Possessos

    O Livro dos Espíritos, 2ª parte, Cap. IX, questões 473 a 480.

    Possessos

    473. Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é, introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado neste corpo?

    “O Espírito não entra em um corpo como entras numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.”

    474. Desde que não há possessão propriamente dita, isto é, coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de a sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada?

    “Sem dúvida, e são esses os verdadeiros possessos. Mas, é preciso saibas que essa dominação não se efetua nunca sem que aquele que a sofre o consinta, quer por sua fraqueza, quer por desejá-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitavam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.”

    O vocábulo possesso, na sua acepção vulgar, supõe a existência de demônios, isto é, de uma categoria de seres maus por natureza, e a coabitação de um desses seres com a alma de um indivíduo, no seu corpo. Pois que, nesse sentido, não há demônios e que dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, não há possessos na conformidade da idéia a que esta palavra se acha associada. O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se com relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.475.

    Pode alguém por si mesmo afastar os maus Espíritos e libertar-se da dominação deles?

    “Sempre é possível, a quem quer que seja, subtrair-se a um jugo, desde que com vontade firme o queira.”

    476. Mas, não pode acontecer que a fascinação exercida pelo mau Espírito seja de tal ordem que o subjugado não a perceba? Sendo assim, poderá uma terceira pessoa fazer que cesse a sujeição da outra? E, nesse caso, qual deve ser a condição dessa terceira pessoa?

    “Sendo ela um homem de bem, a sua vontade poderá ter eficácia, desde que apele para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais digna for a pessoa, tanto maior poder terá sobre os Espíritos imperfeitos, para afastá-los, e sobre os bons, para os atrair.Todavia, nada poderá, se o que estiver subjugado não lhe prestar o seu concurso. Há pessoas a quem agrada uma dependência que lhes lisonjeia os gostos e os desejos.

    Qualquer, porém, que seja o caso, aquele que não tiver puro o coração nenhuma influência exercerá. Os bons Espíritos não lhe atendem ao chamado e os maus não o temem.”

    477. As fórmulas de exorcismo têm qualquer eficácia sobre os maus Espíritos?

    “Não. Estes últimos riem e se obstinam, quando vêem alguém tomar isso a sério.”

    478. Pessoas há, animadas de boas intenções e que, nada obstante, não deixam de ser obsidiadas. Qual, então, o melhor meio de nos livrarmos dos Espíritos obsessores?

    “Cansar-lhes a paciência, nenhum valor lhes dar às sugestões, mostrar-lhes que perdem o tempo. Em vendo que nada conseguem, afastam-se.”

    479. A prece é meio eficiente para a cura da obsessão?

    “A prece é em tudo um poderoso auxílio. Mas, crede que não basta que alguém murmure algumas palavras, para que obtenha o que deseja. Deus assiste os que obram, não os que se limitam a pedir. É, pois, indispensável que o obsidiado faça, por sua parte, o que se torne necessário para destruir em si mesmo a causa da atração dos maus Espíritos.”

    480. Que se deve pensar da expulsão dos demônios, mencionada no Evangelho?

    “Depende da interpretação que se lhe dê. Se chamais demônio ao mau Espírito que subjugue um indivíduo, desde que se lhe destrua a influência, ele terá sido verdadeiramente expulso. Se ao demônio atribuirdes a causa de uma enfermidade, quando a houverdes curado direis com acerto que expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido que empresteis às palavras. As maiores verdades estão sujeitas a parecer absurdos, uma vez que se atenda apenas à forma, ou que se considere como realidade a alegoria. Compreendei bem isto e não o esqueçais nunca, pois que se presta a uma aplicação geral.”

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